Setor cerâmico chegou a ter uma redução de 90% na produção nacional
Henry Villela
Brasil Cerâmica
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O presidente do Conselho de Administração da Associação Nacional dos Fabricantes de Cerâmica para Revestimentos (ANFACER), Manfredo Gouvêa Junior, em entrevista para o portal Brasil Cerâmica falou sobre os desafios que o setor cerâmico nacional enfrenta com a pandemia do Covid-19. De Acordo com Manfredo, essa é uma crise de dimensões globais e que, no Brasil, atingiu praticamente toda a cadeia produtiva. Ele afirma ainda que, o setor chegou a ter uma redução de 90% na produção nacional e hoje segue com uma lenta retomada das operações
Sobre questões energéticas, é destacado na entrevista, que a energia é vista com muita preocupação, tanto referente aos contratos de demanda junto as distribuidoras quanto aos contratos do mercado livre. “Faz-se imperiosa e urgente a busca de uma solução que não desequilibre o sistema. O fato é que as indústrias não podem, por exemplo, pagar por uma demanda que não utilizaram, não por vontade própria, mas por que foram obrigadas a reduzir e até mesmo paralisar suas atividades”, cita Manfredo.
Confira abaixo os principais trechos dessa entrevista:
Brasil Cerâmica (BC): Quais são as ações da Anfacer junto ao governo e a todo setor Cerâmico para mitigação dos impactos da crise no setor cerâmico Nacional?
Manfredo Gouvêa: Entendemos que essa é uma crise de dimensões globais e, no Brasil, atingiu praticamente toda a cadeia produtiva. Estivemos e estamos atuando em conjunto com a mais diversas associações representativas do segmento da construção civil, sempre no sentido de buscar mitigar os efeitos, que certamente levarão algum tempo para serem devidamente dimensionados.
BC: O gás hoje é o principal insumo de todo setor, seguido pela energia elétrica. Há alguma movimentação do sentido de obter subsídios ou redução dos valores dessas matrizes energéticas junto ao governo e concessionárias?
Manfredo: Em tempos normais, nunca buscamos subsídios e sim preços compatíveis com o mercado internacional, que ofereçam a indústria nacional a competitividade necessária e justo custo de produção. O novo mercado do Gás, conjunto de medidas definidas pelo Governo Federal com o intuito de implementar uma política de preços e comercialização mais próximas da realidade mundial, tem nosso apoio e nosso engajamento em todos os passos de sua implementação.
Em tempos de pandemia, faz-se urgente a implementação de medidas para aliviar o caixa das empresas. Estamos vendo a questão da energia com muita preocupação, tanto referente aos contratos de demanda junto as distribuidoras quanto aos contratos do mercado livre. Faz-se imperiosa e urgente a busca de uma solução que não desequilibre o sistema. O fato é que as indústrias não podem, por exemplo, pagar por uma demanda que não utilizaram, não por vontade própria, mas por que foram obrigadas a reduzir e até mesmo paralisar suas atividades em razão da PANDEMIA. Isso para citar apenas um exemplo.
BC: O governo Federal por meio do decreto 10.329, de 28 de abril de 2020, redefiniu algumas atividades como essenciais, incluindo a indústria cerâmica. O senhor acredita que diante da estagnação econômica haverá demandas para retomada de fato de todo setor cerâmico?
Manfredo: A demanda existe, o déficit habitacional é fato, a política de juros mais racionais ajuda, dentre outros motivos que evidenciam que haverá sim a retomada. É fato que sairemos desta pandemia machucados, mas a atividade industrial brasileira é vocacionada e acima de tudo, corajosa. Hoje somos o terceiro maior produtor mundial de cerâmica, temos parques fabris atualizados com o que há de mais moderno do mundo e nossos produtos seguem as grandes tendências mundiais em formatos, cores, relevos e desenhos. O que é necessário é tomar as devidas medidas de proteção agora, proteger as pessoas, proteger o caixa, cobrar dos governos e participar da solução dos problemas imediatos quanto o momento da pandemia e o pós-pandemia.
BC: Hoje o setor cerâmico assim como toda cadeia produtiva tem uma preocupação muito grande com a segurança, mas diante desse novo gargalo que surge diante de contaminações por aglomeração e proximidade entre as pessoas, o senhor acredita que há condições das fábricas fornecerem EPIS a todos funcionários?
Manfredo: Todas as medidas de segurança estão sendo adotadas, protocolos estão sendo elaborados, tudo com o intuito de oferecer a necessária segurança aos nossos funcionários.
BC: Durante esse período quais foram os principais impactos sofridos na indústria cerâmica?
Manfredo: Chegamos a ter uma redução de 90% na produção nacional. Hoje já há uma lenta retomada das operações, mas, como dito acima, de forma monitorada, avaliando cenários e com o olhar sempre focado na segurança operacional e na retomada do ambiente de negócios.
BC: Quanto tempo o senhor avalia que será necessário para o setor assim como toda sua cadeia produtiva recuperar esses prejuízos?
Manfredo: Essa é uma resposta dificílima. Vivemos em um País de dimensões continentais, com realidades e tempos diferentes quanto a curva da Pandemia. O que podemos afirmar é que não nos faltará determinação e foco para recuperar o quanto antes o tempo perdido.
BC: Nessa semana parte da indústria italiana voltou a trabalhar gradativamente, o senhor acredita que o fato de parte da Europa começar a sair da crise e o Brasil nem se quer ter entrado ainda no pico da pandemia, isso tudo somando a alto do dólar, pode haver um desequilíbrio na balança comercia fazendo com o mercado externo paute durante um bom tempo o setor cerâmico nacional?
Manfredo: Não vejo sob essa ótica. A Europa ainda sofre uma duríssima realidade e os países com alta escala na produção de revestimentos, como Itália e Espanha foram durante castigados com a Pandemia. À todos aqueles que fazem parte da indústria cerâmica destes países, nossa solidariedade e um desejo sincero de rápida recuperação. Quanto a nós, penso que, como disse acima, se formos assertivos nas medidas de mitigação dos prejuízos já, com a necessária participação dos governos, da classe empresarial e da sociedade como um todo, sairemos também deste ciclo e juntos, retomaremos o caminho do crescimento e da prosperidade no País.
BC: Diante desse cenário, quais são as perceptivas da ANFACER sobre o futuro do setor cerâmico no Brasil?
Manfredo : Teremos um ano difícil, com perdas ainda não mensuradas na totalidade, ainda em um cenário de incertezas, mas ,olhando para o moderno parque fabril hoje instalado no Brasil , não tenho dúvidas em afirmar que, com coragem e empreendedorismo, superaremos esse momento, preservando o lugar de destaque que temos hoje, interna e externamente e contribuindo fortemente com a retomada do crescimento do mercado da construção civil brasileira.