A indústria na COP 16 de biodiversidade

A Conferência é o órgão supremo que toma as decisões sobre a Convenção sobre a Diversidade Biológica (CDB).

Os recursos genéticos e a indústria na COP16 de Biodiversidade foram tema de debate em reunião conjunta do Conselho Superior de Desenvolvimento Sustentável (Condes) e do Departamento de Desenvolvimento Sustentável (DDS) da Fiesp na segunda-feira (26/8).

A 16ª Conferência das Partes das Nações Unidas (ONU) sobre Biodiversidade será realizada em Cali, na Colômbia, entre 21 de outubro e 1º de novembro de 2024.

A Conferência é o órgão supremo que toma as decisões sobre a Convenção sobre a Diversidade Biológica (CDB). Os países signatários da CDB, dentre eles o Brasil, se reúnem desde 1994 para tomar decisões com foco na conservação da biodiversidade, buscando o uso sustentável dos recursos naturais e a repartição justa dos benefícios da biodiversidade.

Rafael Marques, coordenador geral de patrimônio genético da secretaria de Economia Verde, Descarbonização e Bioindústria do Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços (MDIC) e Mário Cardoso, gerente de recursos naturais da superintendência de Meio Ambiente e Sustentabilidade da Confederação Nacional da Indústria (DRI/CNI), foram os convidados da reunião. A moderação ficou a cargo de Rodrigo de Abreu Lima, conselheiro do Conselho Superior do Agronegócio (Cosag) da Fiesp.

Na abertura da reunião, Fábio Barbosa, presidente do Condes, disse que o Brasil é um país que pode fazer a diferença na questão ambiental e na biodiversidade e o setor privado é ator central. “Ele tem que chamar para si o papel que lhe cabe e dar a sua contribuição em todos os aspectos”, afirmou. “A gente espera esse fortalecimento em Cali”.

Mario Hirose, diretor titular adjunto do DDS, citou os principais temas da COP16 de Biodiversidade de interesse direto da indústria na visão da Fiesp: mecanismo global de repartição de benefícios pelo uso de sequencias digitais (DSI); a biologia sintética (com ela, pesquisadores conseguem reescrever o DNA de organismos vivos); e avaliação de risco de organismos vivos modificados.

“A Fiesp e a COP16 de Biodiversidade terão um momento crucial para fortalecer a participação da indústria na implementação de ações que contribuam, significativamente, com o alcance de metas de biodiversidade, inovação e utilização de recursos genéticos”, disse Hirose.

Rafael Marques, do MDIC, apontou algumas oportunidades de negócio no Brasil em áreas onde o mercado mundial está em expansão: descarbonização de processos produtivos e de serviços na economia mundial; mandatos para biocombustíveis; demanda crescente para biofármacos, biocosméticos, fitoterápicos e insumos; e demanda nacional por biofertilizantes e biodefensivos agrícolas.

Dentre essas oportunidades, Marques citou ainda um estudo publicado em 2023 pela consultoria estratégica alemã Roland Berger. Ela projeta que o hidrogênio verde (H2V) será a principal fonte de energia do planeta, se o mundo cumprir os compromissos estabelecidos no Acordo de Paris.

Neste cenário, o mercado mundial de H2V deverá movimentar mais de US$1 trilhão em venda direta do combustível ou derivados. De acordo com a consultoria alemã, o Brasil irá liderar essa corrida, transformando-se em um grande exportador global.

Marques disse ainda que a Roland Berger estima que o mercado brasileiro de H2V irá alcançar um valor anual de R$150 bilhões, dos quais R$100 bilhões serão provenientes das exportações.

Os setores-chave para a bioeconomia onde o Brasil pode desenvolver suas competências também foram citados por Rafael Marques: saúde e nutrição; biocombustíveis avançados; processos e serviços; químicos e materiais.

“Engana-se quem pensa que a bioeconomia é traço no Produto Interno Bruto (PIB) brasileiro. Não é, nem no Brasil e nem no mundo. Ela tem perspectivas de mercado crescentes”, garantiu Marques.

Ele citou como exemplo o mercado sustentável de combustível de aviação, o SAF. “A expectativa de crescimento é estimada em quase 50% em sete anos, uma demanda mundial expressiva”, assegurou.

Mario Cardoso, da CNI informou que até o momento mais de 70 empresas já se cadastraram para participar da COP16 de Biodiversidade. “Ampliamos o prazo de inscrição porque muitas empresas estão interessadas”, disse. As inscrições podem ser feitas até o dia 10 de setembro e o formulário de pré-inscrição está no site da CNI.

Segundo Cardoso, a CNI vai atuar em várias frentes durante o evento na Colômbia. Entre elas, acompanhamento das negociações e construção de posicionamentos; recomendações e mapeamento de ferramentas e pesquisa sobre biodiversidade à base industrial (que será aplicada em setembro).